
Chegamos à Parte II de nosso post sobre a história dos X-Men nos quadrinhos. Leia a parte I
Estamos em 1986 e os X-Men se transformaram em uma das revistas mais vendidas da Marvel Comics, batendo de frente com o quase imbatível Homem-Aranha. O escritor Chris Claremont
continua a guiar os mutantes a fronteiras cada vez mais distantes e
grandes mudanças (cronológicas e editoriais) chegariam em breve. Vamos
lá!
O X-Factor e a proliferação de títulos mutantes

Pouco depois, foi criado um segundo spin-off dos X-Men com o X-Factor, nada mais, nada menos, do que a equipe original dos X-Men: Ciclope, Garota Marvel, Fera, Anjo e Homem de Gelo. Mas peraí, Jean Grey? Sim, isso mesmo. Uma trama mostrada na revista dos Vingadores (por Roger Stern e John Buscema) e no Quarteto Fantástico (por John Byrne) culminou em X-Factor 01 por Bob Layton e Jackson Guice,
mostrando os Vingadores encontrando um tipo de casulo no fundo da Baia
Jamaica, em Nova York. Investigando tal artefato, o Quarteto Fantástico
descobre que Jean Grey está em seu interior. A equipe descobre que, na
verdade, Fênix e Jean Grey eram duas entidades
separadas que se encontraram no acidente do ônibus espacial lá trás no
passado. A Fênix colocara Jean Grey no casulo para curar seus ferimentos
e tomou o seu lugar. Desse modo, foi a Fênix que morreu na Lua e Jean Grey estava viva esse tempo todo.

As histórias do X-Factor, escritas por Louise Simonson (a partir do número 06) e desenhadas por Guice e, em seguida, por Walt Simonson,
se converteram em uma grata surpresa no fim dos anos 1980, com ótimos
roteiros, uma trama envolvente e uma abordagem madura e complexa do
relacionamento entre Jean Grey e Scott Summers, já que, agora, ele era um homem casado e pai de um filho. O casamento não resiste, entretanto, e Madelyne Pryor desaparece com o filho Nathan sem deixar pistas.
O Massacre de Mutantes e o Início da Era das Grandes Sagas
O fim dos anos 1980 estava chegando e a Marvel começou a mudar seu
modus operandi. De arcos de histórias que se desenvolviam de modo lento e
gradual ao longo de várias edições, o novo editor-chefe Tom DeFalco, comandou a era dos crossover,
ou seja, arcos de histórias mais curtas, porém, mais bombásticas,
“grandes eventos”, que, inclusive, se interligariam com várias outras
revistas. O primeiro desses a envolver os X-Men foi o Massacre de Mutantes, uma saga na qual os mutantes Morlocks são atacados por um grupo chamado de Carrascos, formado por novos personagens como Caçador de Escalpos, Maré Selvagem, Embaralhador, Arrasaquarteirão e outros.
A saga envolveu os títulos Uncanny X-Men, New Mutants, X-Factor e até The Mighty Thor, que era escrito por Walt Simonson, que também desenhava o X-Factor. Na trama, a grande maioria dos Morlocks é morta, Lince Negra (Kitty Pride), Noturno e Colossus são gravemente feridos e afastados da equipe e os X-Men começam a suspeitar que Jean Grey está viva (Wolverine sente o cheiro dela nos túneis subterrâneos). Também ficou estabelecido que um dos membros dos Carrascos, Dentes de Sabre (uma personagem criada por Claremont e Byrne como vilão nas histórias do Punho de Ferro) era não somente um velho conhecido de Wolverine, mas seu maior inimigo do passado.
Nas histórias que se seguem, os X-Men recrutam novos membros – Crystal, Longshort e Psyloche – e caçam os Carrascos até descobrir que são liderados por um misterioso e poderoso vilão chamado Sr. Sinistro. Essas tramas fecham a transição de fases na revista Uncanny X-Men, marcando a saída do desenhista John Romita Jr.; algumas edições realizadas com desenhistas convidados, como Barry Windsor-Smith, Alan Davis, Arthur Adams; até Marc Silvestri assumir o título.

Tem início a saga A Queda dos Mutantes, que envolveu todos os títulos mutantes (Uncanny X-Men, X-Factor e New Mutants) em situações extremas. No combate contra o Adversário, os X-Men são dados como mortos e preferem continuar assim. Roma os transporta para a Austrália, onde o grupo monta base e passa a agir secretamente para revidar os velhos inimigos, particularmente os Carrascos e os Carniceiros. Como presente de Roma, os X-Men (Tempestade, Wolverine, Colossus, Vampira, Crystal, Longshort, Psyloche, Destrutor e até Madelyne Pryor) ficam invisíveis a aparelhos eletrônicos.
Paralelamente, Wolverine começa uma série de aventuras solo em sua própria revista. É a estreia de Wolverine, ainda com textos de Chris Claremont e arte do veterano John Buscema. Na trama, Logan vai até a fictícia cidade de Madripoor, na Indonésia, onde investiga algumas conexões de seu passado misterioso. As histórias são mais low-fi, com tom sombrio e mais realistas, calcadas no submundo do crime.
Os X-Factor também vivia uma fase importante nas mãos do casal Louise
Simonson (roteiros) e Walt Simonson (desenhos). Ciclope e Jean Grey
estão juntos, mas o Fera sofre por estar se tornando cada vez mais
bestial, ao mesmo tempo em que, como consequência do Massacre de Mutantes, o Homem de Gelo tem dificuldades em controlar seus poderes e o Anjo tenta suicídio por ter perdido suas asas.
Mas o mutante alado é resgatado pelo vilão Apocalipse que o transforma na Morte,
o Quarto Cavaleiro do Apocalipse (junto a Guerra, Peste e Fome). O
quarteto combate o X-Factor, que vence e consegue fazer Warren
Worthington III retomar sua consciência, mas ele decide não se unir
novamente ao grupo, num primeiro momento. Ele voltaria, mas agora se
chamando Arcanjo. Ao mesmo tempo, a equipe se aproveita
da gigantesca nave de Apocalipse, que é comandada por uma ineligência
artificial, e passa a usá-la como QG.
Os Novos Mutantes vêem a morte de dois membros: Warlock e Cifra.
Enquanto Chris Claremont fazia os X-Men rodar o mundo como fantasmas e
combater uma série de novos e estranhos inimigos; diversos outros
artistas passavam a colaborar com o universo mutante e a modificá-lo.
Os Novos Mutantes, por exemplo, também passaram ao comando de Louise Simonson durante um tempo, que junto ao desenhista Rob Liefeld
criou várias novas personagens e um novo contexto para a equipe: com a
“morte” dos X-Men; o exílio de Xavier no espaço; e a debandada de
Magneto (após as mortes citadas), que deixam o grupo à própria sorte, os
adolescentes encontram apoio em um novo e misterioso mutante: Cable.
O passado de Cable era misterioso, mas ele tinha uma vasta experiência, além de uma postura eminentemente militar
para transformá-los em um grupo preparado para a guerra. Repleto de
membros novos, a equipe evoluiu para uma revista mais violenta e de
roteiros mais exagerados típicos da época, chamada X-Force comandada pelo escritor Fabian Niceza e ainda com o desenhista Rob Liefeld.
Ao mesmo tempo, o X-Factor continuava a combater o superpoderoso Apocalipse.
Neste ponto, ocorreu o primeiro encontro entre os X-Men e o X-Factor e ele não foi nada amistoso. O encontro se deu durante a saga Inferno
que correu em todos os títulos mutantes, mas também em outras edições
da Marvel, notadamente no Homem-Aranha. Na trama, o X-Factor descobria
que Madelyne Pryor era uma entidade superpoderosa conhecida como a Rainha dos Duendes e ajudava a montar uma invasão de demônios
sobre a Terra. Ela queria, também, sacrificar uma série de bebês para
aumentar seus poderes. Ciclope consegue resgatar seu filho, mas é
obrigado a atacar a ex-esposa.
Os X-Men, que não sabiam da verdade sobre Madelyne (que agora namorava
Destrutor, o irmão de Ciclope), vão protegê-la de maneira violenta,
cheios de mágoas em relação ao X-Factor, por julgá-los caçadores de
mutantes, traidores da raça. Uma batalha selvagem se dá entre eles, mas
Jean Grey e Tempesdade (que sempre foram amigas muito queridas)
conseguem acalmar os ânimos e direcioná-los ao verdadeiro inimigo: o Sr. Sinistro.
Na batalha final, Ciclope mata o Sr. Sinistro e a Rainha dos Duendes perde seus poderes e também morre, embora fique claro que ela era uma clone de Jean Grey, produzida pelo Sr. Sinistro, como os X-Men suspeitaram desde o início. Ciclope e Jean Grey passam a cuidar do filho dele, Nathan Summers.
O X-Factor, então, passa por uma fase sem grandes atrativos,
encerrando a longa jornada da escritora Louise Simonson a frente da
revista X-Factor, no número 63, em 1990, logo após o arco Programa de X-Termínio, que será comentado abaixo.
Preparando o caminho para o fim do “primeiro X-Factor”, a revista é assumida por Chris Claremont e Jim Lee, que dividem os roteiros para um arco em cinco partes desenhado por Whilce Portacio.
Em um ataque de Apocalipse, o bebê Nathan Summers é infectado por um vírus tecnorgânico
que vai matá-lo em pouco tempo. Então, uma mulher vinda do futuro,
chamada Askani, aparece para salvá-lo, dizendo que pode curá-lo. Lendo
sua mente, Jean percebe que ela fala a verdade e a criança é levada
embora. (Histórias futuras revelariam que Askani agia a mando de Rachel Summers, a Fênix II, filha de Ciclope e Jean Grey no futuro). Mas é um golpe duro para Ciclope, que em pouco tempo perdeu a ex-esposa e o filho.
Mas este fato teria grandes desbobramentos em breve.
Enquanto isso, a revista Uncanny X-Men via o nascimento de um astro. Quando Silvestri abandonou o título, foi substituído pelo sul-coreano Jim Lee
e seu estilo cheio de traços, composição arrojada, cenas estudadas e
rostos cheios de fúria fez o maior sucesso. Rapidamente, Jim Lee se
tornou uma das maiores estrelas da Marvel, tanto que passou até a
colaborar com os argumentos de Claremont.
As histórias escritas por Claremont e Lee mostravam os X-Men dispersos pelo mundo. Roma tinha dado a eles um artefato chamado Portal do Destino,
em que podiam atravessar e renascer com outra vida, sem lembranças.
Colossus, Destrutor, Vampira fizeram uso dele e desapareceram.
Tempestade foi reduzida à idade de uma criança e dada como morta.
Wolverine estava mais interessado em suas “aventuras solo” (a revista Wolverinefazia bastante sucesso, agora nas mãos do escritor Larry Hama e do desenhista Marc Silvestri). E o Gambit fez sua estreia e, pouco depois, seria um mutante muito popular entre os fãs.
Mas Logan logo voltaria a se interessar por seu grupo quando conheceu a adolescente mutante Jubileu.
O censo de responsabilidade falou mais alto e o baixinho decidiu
treiná-la como Xavier teria feito. Os dois passaram a agir juntos e
terminaram no Japão, onde Psyloche foi atacada pelo Tentáculo e transformada de uma lady britânica em uma ninja japonesa por meio de um processo de transferência de mente e corpo (é por coisas como essa que a revista do X-Factor era muito melhor…).
O Fim de uma Era
Wolverine, Psyloche e Jublileu começam a tentar reagrupar os X-Men. Ao mesmo tempo, Vampira está na Terra Selvagem com Magneto.
O ex-vilão descobre como anular os poderes dela por meio de seu
magnetismo – Vampira não podia tocar em ninguém sem absorver memórias e
poderes – e, com isso, os dois vivem um intenso caso de amor. Mas tudo é atrapalhado pela emergência de um grupo de mutantes terroristas formados pelos Metamorfos, aqueles mesmos que Magneto liderou no fim dos anos 1960. (Veja a primeira parte do post).
Neste ponto, ocorrem dois megaeventos reunindo todos os títulos mutantes – Uncanny X-Men, X-Factor, X-Force, Wolverine… – chamados Programa de X-Termínio e A Saga da Ilha Muir.
Em X-Termínio é apresentada a nação de Genosha,
um país fictício próximo a Magadascar, onde mutantes são perseguidos
impunemente pelo próprio governo, num tema que seria recorrente nos
x-títulos dali em diante.
Em seguida, em Uncanny X-Men 275 (por Claremont e Lee), os X-Men são reunidos com Tempestade, Wolverine, Jubileu, Psyloche, Gambit, Banshee e Forge e vão ao espaço ajudar os Sh’iar em mais uma crise. De brinde, na volta trazem o Professor Xavier após anos no espaço.
Depois, veio A Saga da Ilha Muir, onde um mutante superpoderoso chamado Mestre das Sombras
– que teria sido o primeiro mutante maligno a ser combatido por Xavier
quando jovem – ataca uma série de mutantes (coadjuvantes das revistas
dos X-Men que não tinham função narrativa na época) e domina suas
mentes. Num esforço conjunto, os X-Men e o X-Factor se unem para
derrotá-lo e como consequência, o Professor X perde mais uma vez o uso de suas pernas.
Essa saga foi esboçada por Claremont e Lee, mas foi tocada de fato por
Fabian Niceza e vários desenhistas. A dupla precisava de tempo para
preparar um evento bombástico.
Outras consequências se seguem à Saga da Ilha Muir: com a presença de Xavier, os membros do X-Factor decidem voltar aos X-Men. Xavier se reúne com Valerie Cooper
– a Secretária Especial do Governo dos EUA para Assuntos Mutantes – e
resolvem criar uma equipe operacional do governo (agentes secretos
mutantes), que herdará o nome X-Factor.
O novo X-Factor é formado por Destrutor (líder), sua namorada Polaris, o ex-vingador Mércurio e outros membros “menores”, como Lupina (dos Novos Mutantes), Homem-Múltiplo e Fortão. Com histórias escritas por Peter David e desenhos de Larry Stroman, a nova tônica do X-Factor era o humor e foi uma revista surpreendente. O início se deu em X-Factor 71, de 1991.

Já a azul estrearia em grande estilo na nova revista X-Men 01, de 1991,
comandada por Claremont e Jim Lee. A Marvel fez uma grande divulgação
desse novo título e um marketing agressivo, que incluíam quatro capas
diferentes para a mesma edição, que unidas formavam um grande poster. O
resultado é que muitos leitores compraram a mesma revista várias vezes,
para ter as capas e X-Men 01 vendeu a absurda tiragem de 8 milhões de unidades, um número tão alto que hoje é inconcebível.
Essa venda fez o mercado de quadrinhos entrar em uma
era de muita superprodução, dinheiro e vendas altíssimas, capitaneado
por artistas como Lee que com seu traço faziam as edições serem sucesso.
O problema é que a sanha terminou prejudicando a qualidade das
histórias. Em médio prazo, também haveria o estouro da bolha, mas isso é
assunto para adiante.
Os três primeiros números da nova X-Men traziam uma trama interessante: Magneto decidia reativar o Asteróide M
e disponibilizá-lo para qualquer mutante que quisesse viver lá, como um
refugo da perseguição. Um grupo de admiradores, chamado de Acólitos, liderado pelo manipulador Cortez,
começa a influenciar Magneto a transformar-se, novamente, em uma
liderança mutante a ser seguida. Lentamente, ele vai voltando a ser o vilão que conhecíamos, principalmente depois que descobre que Moira McTaggert
teria alterado seu código genético quando ele era uma criança (ele foi
reduzido a infância durante um curto período, nos meados dos anos 1970)
para que ele não fosse mais tão mal.
.
As grandes potências mundiais se sentem inseguras com Magneto
mantendo uma nação mutante acima de nossas cabeças e decidem atacá-lo.
Cabe então a Equipe Azul dos X-Men detê-los, reunindo os membros mais
populares do time: Ciclope, Wolverine, Gambit, Psyloche, Vampira, Fera e Jubileu.
Entretanto, por trás dos panos, o clima editorial
dos X-Men não era nada bom. Chris Claremont, que escrevia os mutantes há
muitos anos, via seu poder de decisão cada vez mais reduzido. E ainda
tinha que conviver com vários outros escritores escrevendo as demais
revistas. Além disso, os editores da Marvel, particularmente o editor assistente Bob Harras e o Editor-Chefe Tom DeFalco,
pareciam mais inclinados a acatar as decisões do astro Jim Lee do que
as do velho escritor, que se viu desmotivado a continuar no jogo. Assim,
X-Men 03 foi a última edição dos mutantes escritas por Claremont, depois de 18 anos ininterruptos à frente dos X-Men.
Simbolicamente, sua saída marca o fim de uma Era e o início de outra
em que o sucesso da equipe e suas revistas será cada vez mais maior e as
medidas editoriais cada vez mais assustadoras.
Fiquem ligados na continuação deste post em breve!
FONTE: HQ Rock
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